Menina com paralisia facial Paranaense é a primeira criança a fazer transplante de nervo e músculos do Brasil

Aos quatro anos, Maria Clara Chanan Marchiori passa por uma técnica inovadora no país para transplante de nervo e músculos da face. O procedimento é feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e é composto por três etapas cirúrgicas.

Natural de Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba, a menina nasceu com agenesia do 7º par craniano, ou seja, o nervo da face não se desenvolveu. Ele é responsável, por exemplo, por controlar funções como mastigação, sorriso e piscar dos olhos.

Com a condição rara, Maria Clara tem o lado direito da face paralisado. Agora, a cirurgia representa esperança para a família, como relata a mãe, Keisse Chanan.

O que mais quero é que ela possa sorrir, não tenha vergonha de sorrir, que seja natural, espontâneo. É um sonho. [Vê-la sorrir] foi a realização de um sonho

— afirma a mãe.

De acordo com Keisse, em maio Maria Clara foi submetida à primeira das três etapas. A mãe conta que, com o procedimento inicial, notou mudanças na mobilidade do rosto da filha.

“O rosto era bem mais preso antes, bem mais paralisado e, com as primeiras cirurgias, a gente já sentiu resultado, ali já soltou pouquinho mais”, relata.

O cirurgião plástico e microcirurgião Chang Yung Chia, responsável pelo tratamento da criança, explica que o nervo que comanda os músculos do rosto é o nervo facial, que sai de dentro do crânio e se divide em vários ramos, que também são chamados de nervos. Assista ao vídeo acima.

Por conta da ausência de nervos, os músculos não são formados ou passam a degenerar e atrofiar, como explica Dr. Chang.

O procedimento pelo qual Maria Clara está sendo submetida é considerado inovador.

O médico explica que, em casos como esse, o mais simples é a substituição do nervo por outro que não seja facial. Porém, de acordo com ele, o resultado é inferior ao desejado, isto porque o nervo continuará cumprindo a função original dele.

“O outro nervo vai fazer o músculo contrair, mas o comando é diferente. Vou dar um exemplo: tem um nervo de mastigação, que pode ser usado para substituir o facial, só que não tem nenhuma espontaneidade, ou seja, para a pessoa sorrir, precisa pensar em morder, porque aquele nervo é para morder. Essa técnica é uma boa técnica, mas não é a técnica ideal”, explica.

A estratégia aplicada por Dr. Chang para Maria Clara envolve a “ponte” entre o nervos do lado ativo, para o lado afetado. A técnica, criada nos Estados Unidos, é conhecida como “cross-face”, ou “trans-facial”.

A inovação na aplicação do método, segundo o médico, é que a cirurgia geralmente é feita para recuperar o sorriso do paciente. Porém, em Maria Clara, serão recuperadas três funções da face.

“Geralmente você usa um nervo só para recuperar o sorriso e a gente tá passando cinco nervos. Um para a pálpebra superior, um para a inferior – então dois para os olhos–, um nervo para o sorriso e mais dois nervos, um para lábio superior e outro pro lábio inferior.

“Ao invés de recuperar somente um movimento, a gente está recuperando cinco músculos para função da pálpebra, do lábio e mais o sorriso: as três principais funções da face”, esclarece o microcirurgião.

Dr. Chang explica ainda que inicialmente é feito o transplante dos nervos e há uma espera de cerca de quatro a seis meses, para que seja feito o transplante dos músculos.

“O músculo tem que receber estímulo do nervo imediatamente após o transplante. Por isso, se faz transplante de nervos primeiro, espera-se o crescimento dos axônios nesses nervos até outro lado da face, que leva de quatro a seis meses, e, quando o crescimento atingir o lado paralisado, transplanta-se o músculo e já liga este com a ponte do nervo transplantado previamente”, detalha.

Dificuldades no cotidiano

De acordo com a mãe da paciente, a paralisia implica uma série de dificuldades no cotidiano da criança. Maria Clara tem dificuldades para fazer a mastigação, tem impactos na saúde do olho, uma vez que ele não fecha completamente e super audição, por exemplo.

Além disso, Keisse lembra ainda a questão da autoestima e episódios de bullying que a filha passou por conta da condição.